Após um período inédito de juros extremamente baixos, a Taxa Selic (que iniciou 2021 em 2,00% a.a., sua mínima histórica) encontra-se em queda desde agosto de 2023, após uma longa jornada de política monetária restritiva, quando a taxa subiu, atingindo e permanecendo no patamar de 13,75% a.a. por quase um ano. Em geral, os agentes do mercado financeiro acreditam que os juros seguirão em queda, com uma taxa Selic terminal em 2023 e 2024 na ordem de 11,75% a.a. e 9,00% a.a., respectivamente, conforme informações do Relatório de Mercado do Bacen (Focus) de 22/09/23.
A expectativa do mercado financeiro, observada no Focus, é que a inflação (IPCA) encerre o ano de 2023 com alta de 4,86%, acima não só do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,25%, como ligeiramente do teto de 4,75%.
Ao final de 2022, quando da formulação do cenário base pelo Comitê de Investimentos e Risco (CIR) para a Política de Investimentos 2023-2027 da Vexty (PI), foi considerado que o CDI (que tem como referência a SELIC) encerraria este ano em 11,3% a.a. e em 10,1% em 2024. Portanto, apesar da pequena diferença de projeção em relação aos números atuais estimados pelo mercado financeiro, o movimento de redução gradual dos juros está presente no modelo de definição das carteiras dos Perfis de Investimento aqui na Vexty.
Mas, ao final, como isso afeta o desempenho dos investimentos da Vexty? Especialmente a carteira da Classe Renda Fixa Curto Prazo, que está presente em todos os Perfis e, em maior proporção, no Perfil Curto Prazo?
De forma bem sucinta, o comportamento da taxa básica de juros afeta diretamente a rentabilidade dos títulos atrelados a este indicador. A não ser em situações atípicas de mercado, que precisam ser analisadas caso a caso, o que não é o objetivo neste texto.
Como cerca de 87% dos ativos da Classe Renda Fixa Curto Prazo são compostos por títulos do Tesouro Nacional pós-fixados (Tesouro Selic), com alta liquidez e baixíssimo risco, a rentabilidade desta Classe está bem correlacionada aos movimentos da taxa básica de juros.
Os outros 13% do total investido nesta carteira estão alocados em fundos que adquirem ativos de crédito privado, com portfólio diversificado e títulos com grau de investimento, sendo que a maioria destes títulos remunera o investidor com um prêmio acima do CDI1) (Certificado de Depósito Interbancário).
Esse prêmio acima do CDI, ou excesso de retorno além da taxa livre de risco, é o que o mercado denomina de spread ou prêmio de risco pelo ativo (um indicador do risco inerente à empresa emissora da dívida), constituindo parte importante da remuneração da carteira. Para ilustrar, um título que remunera o investidor com 110% do CDI tem uma rentabilidade esperada de 13,92% a.a. (ou seja, 12,65%, considerando a taxa atual dos juros, mais 1,27% de spread).
A remuneração dos investimentos em títulos de crédito privado pode ser impactada por mudanças nos spreads dos ativos. Caso ocorra um aumento nos spreads dos títulos, em relação ao nível do momento de aquisição ou última marcação a mercado (conforme definimos abaixo), haverá uma redução no valor de mercado desses ativos, gerando uma rentabilidade negativa pontualmente. O contrário também é verdadeiro.
Esse efeito é conhecido como “marcação a mercado”, que é o método de definição do preço do título pelo valor da sua negociação no mercado financeiro. O uso desse método é imposto pela regulação do setor na Resolução CMN nº 4.994 e reconhecido como a melhor prática contábil.
Atualmente, devido ao estresse no mercado de crédito privado local, relacionado ao aumento da incerteza a partir dos eventos de default observados em dívidas de empresas locais, principalmente no setor de varejo, os spreads de crédito estão acima do padrão histórico, quando observamos os indicadores do setor por meio do índice IDEX-CDI, da gestora JPG2). Historicamente, em períodos de normalidade, o índice tem um valor médio próximo a 1,5%. O último dado de março de 2023, mostra um spread médio em 2,3%, reflexo do nível de risco do momento. Porém, sobre outro enfoque, apresentando oportunidades interessantes de alocação visando o longo prazo.
Apesar de termos observado alguns desses efeitos na carteira de investimentos do Plano Vexty, as alocações realizadas em fundos que possuem títulos de crédito permanecem seguros e com nível de risco monitorado continuamente.
Ponderados os riscos, o que observamos após esse estresse no mercado de crédito local e a consequente elevação das remunerações destes títulos, principalmente após os casos Lojas Americanas e Light, é o aparecimento de oportunidades interessantes de investimentos na Classe Renda Fixa Curto Prazo. Essas oportunidades são discutidas e avaliadas continuamente pelo Comitê de Investimentos e Risco da Vexty (CIR).
Portanto, para concluir, caso não ocorram (i) mudanças bruscas e anômalas nos juros futuros, diferindo muito em relação às expectativas do mercado, e (ii) significativa alteração no cenário de spreads de riscos de crédito, esperamos não ter impactos relevantes na rentabilidade desta Classe de Ativos.
Notas:
1) O CDI é o custo médio que os bancos cobram para emprestar dinheiro no mercado interbancário, sendo que este indicador, em um ambiente normal de mercado, acompanha os movimentos da Taxa Selic.
2) Fonte: https://idex.jgp.com.br/idex-cdi-geral/, consultado em 26/set/2023
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